Partindo do post de João Miranda, eu generalizo e digo que o problema não é só do Público. João Miranda refere um post meu, cujo foco é a facilidade com que os jornais dão crédito a "estudos" de opinião e transformam press releases disparatadas em títulos surrealistas. Como diz um comentador desse post, «Houve jornais que, com um intervalo de minutos, publicaram uma notícia a dizer que um terço dos tugas fazia férias lá fora e outra a dizer que metade dos tugas fazia férias lá fora.» Até dá para suspeitar que as notícias são colocadas por robots informáticos, mas a notícia que mereceu o meu post foi publicada na versão em papel do DN, por exemplo!
Numa visita aos posts que agrupei na temática "Ai os media", o leitor encontrará uma amostra do péssimo jornalismo que se faz em Portugal, no que respeita a uma área que me preocupa, que é a iliteracia numérica dos jornalistas portugueses. Infelizmente, essa "doença" não se confina a este grupo profissional, mas é aí que tem maior visibilidade.
Numa análise simplista, encontro dois grandes grupos de erros de apreciação numérica:
Um é, para usar uma expressão forte, analfabetismo. Exemplos:
1. Residentes são os principais clientes do turismo português é o título do Público. Os "dados" que o jornal cita dizem que os não residentes são os principais clientes.
2. A LUSA, em trabalho reproduzido pelos principais OCS, diz que 43% dos portugueses bebem álcool diariamente. O relatório que a LUSA cita diz que são 23%.
3. A LUSA, em trabalho reproduzido pelos principais OCS, diz que mais de um terço dos doentes que deram entrada na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) em 2009 morreu no primeiro mês. O relatório que a LUSA cita permite estimar que foram apenas 6%.
4. A LUSA, em trabalho reproduzido pelos principais OCS, diz que Portugal tem taxas de acesso à Internet superiores à média da União Europeia. O "estudo" que a Lusa cita diz que 42% dos portugueses usam net, face a uma média de 61% na UE27.
O outro é a divulgação "automática" dos press releases sem o mínimo esboço de questionar os números apresentados. Pior, com a recorrente inclinação de fazer a manchete com os números implausíveis. Exemplos:
1. Não é preciso estar muito informado para não acreditar que 1/3 (muito menos 1/2!!!) dos portugueses façam férias no estrangeiro. Afinal, 4% é uma estimativa mais próxima da realidade!
2. O Diário Digital titula: Estudo: Portugal é o que tem mais cibernautas online. O "estudo" resulta de respostas de cibernautas online!!! Os inquéritos do Eurobarómetro permitem concluir que Portugal é dos que tem menos cibernautas online.
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