28/02/2010

As minhas escolhas

Para se compreender melhor os processos através dos quais se impôs o partido dominante da I República. Para além das diferenças ideológicas das facções republicanas e das rivalidades pessoais dos líderes, podemos também conhecer melhor os contextos em que decorreram as eleições.

Partidos e programas: o campo partidário republicano português (1910-1926)
de Ernesto Castro Leal
Imprensa da Universidade de Coimbra, 15,75€

Fica à consideração dos leitores esta citação da pág. 46:
«A continuada presença dos democráticos nas várias estruturas da administração pública e em conselhos de administração de empresas e bancos criou rotinas de centralismo burocrático, subalternizando a dinâmica de partido em relação à dinâmica de Estado, o que diluiu a autonomia partidária, o militantismo dos filiados, a capacidade de renovação ideológica ou a crítica livre por parte dos seus protagonistas políticos».

Ainda os barris...

À minha pergunta sobre os "3,3 milhões de barris" respondeu o deputado Acácio Pinto:
«(...) o barril de petróleo funciona como unidade equivalente e portanto a economia de combustível conseguida com a concretização dos empreendimentos do PNBEPH será de 3,3 barris de petróleo, nos termos que a seguir passo a explicar.

Assumindo que por cada 1000 GWh produzidos (segundo a DGEG) precisamos do equivalente a 1,2 milhões de barris de petróleo e tendo-se como previstos 2673 GWh de produção média anual nos empreendimentos já concessionados, chegaremos ao tal valor dos cerca de 3,3 milhões de barris que referi.»

Em primeiro lugar, agradeço o esclarecimento, já que ficamos a saber que quem fala em barris de petróleo pode falar noutra qualquer "unidade equivalente". Ou seja, não se pode tomar à letra a forma como o sr. deputado se dirigiu à AR: «o que nós queremos é, com essa produção de energia, evitar a importação anual de 3,3 milhões de barris de petróleo».

Se não se pode tomar à letra, também não se pode tomar ao número:
  1. Utilizando a sua forma de conversão, os 2673 GWh corresponderiam a 3,2 milhões, não a 3,3 milhões.
  2. Entre a minha pergunta e a sua resposta, um Professor de Energia do IST apresentou os cálculos de potência das barragens do PNBEPH, donde se pode estimar que a produção não seria de 2673, mas antes de 1533 - o que faria diminuir os "barris" para 1,8 milhões.
  3. O mesmo especialista dá conta de que esse acréscimo de produção seria o necessário para a bombagem implicada pelos novos empreendimentos eólicos - o que faria diminuir os "barris" para zero!

27/02/2010

Ciência e ideologia

José M. Castro Caldas descobriu agora «que as pessoas têm boas razões para desconfiar de economistas que passam a vida a puxar dos galões científicos para impingir opiniões». O fenómeno é antigo e extenso. O mesmo se passava com os médicos do Partido Republicano Português, o mesmo se tem passado com alguns "sábios" do IPCC, o mesmo se passou no Verão de 2009 com os célebres Manifestos, nomeadamente o que foi apresentado como «Manifesto de 51 economistas e cientistas sociais».

Nesse mesmo manifesto brilhava um «Economist; Blogger; International Policy Analysis;Author of book on Obama's Presidency and the Financial Crisis», estrela blogosférica cuja produtividade opinativa se deve, a meu ver, aquilo que Castro Caldas chama «leviandade», a tal que o levou à interrogação: «Como é possível não ter visto a leviandade nos posts antigos, onde ela estava tão clara como nos actuais?».

Caro Castro Caldas: tivesse lido com atenção os blogues onde pontificam os economistas "neoliberais" e há muito teria conhecido "a peça". Da falta desse conhecimento não se podem queixar os leitores deste modesto blogue, já que eu sou um fã do "Professor de Economia":
  1. Diana Mantra Vs Diana Chaves (6-7-2009)
  2. As minhas escolhas (1-11-2009)
  3. Mais um que tresmalhou (28-1-2010)
  4. As minhas escolhas (7-2-2010)

Escalas

Na minha experiência profissional, sempre me intrigou o facto de haver pessoas com elevado nível de formação escolar que revelam um percepção inadequada de escalas de medida - denotam, particularmente, uma má percepção das escalas com número par de pontos.
Como se pode ver pela frequência de respostas à pergunta abaixo, muitos respondentes julgam incorrectamente que 5 é o ponto médio da escala!
Até Paulo Guinote, doutorado, parece evidenciar esta má percepção, neste post:
«Com uma escala mais ampla do que a eduquesa de 1 a 5 (e ai-jesus que o 1 é só para usar quando os cavaleiros do apocalipse fizerem sentir o seu tropel) tornava-se tudo mais claro e até permitiria fazer ali um nível intermédio nos 5 pontos, entre a carne (positiva, de 6 a 10 ) e o peixe (negativo, de 1 a 4).»

Pois é, Paulo - 5 é "peixe" :)

24/02/2010

Incubar bóis

É para isto que serve a tão propalada "necessidade" de interligação entre o "mundo académico" e o "mundo empresarial".

Uma data de números

... ao alcance de dois ou três cliques. Uma ferramenta muito útil, pela facilidade de utilização e pelo acesso a séries temporais difíceis de obter nos sítios dos fornecedores oficiais dos números.
A facilidade de acesso poderá, por exemplo, inibir a eurodeputada Edite Estrela de empancar em números do défice não oficiais.
No entanto, nos tempos que correm, a PORDATA é o melhor instrumento para contabilizar as "imprecisões estatísticas" que o Primeiro Ministro é capaz de introduzir numa entrevista... praticamente em tempo real.

19/02/2010

Pesetero

A propósito do «apoiante espontâneo e fervoroso [de Sócrates, que] primeiro deve querer assinar o contrato, não é?», vale a pena ler um texto que António de Almeida publicou dois dias antes das eleições. Ele recorda o carácter de Figo, através de episódios da sua carreira que eu aqui destaco:
  1. Ainda júnior, assinou contrato em simultâneo com o Sporting C.P. e S.L.Benfica, valeu-lhe um acordo entre Sousa Cintra e Manuel Damásio, para o salvar de pesado castigo
  2. passado pouco tempo repetiu a façanha, assinando por Juventus e Parma, dois clubes italianos na mesma época, mais uma vez salvou a face, com a contrapartida de não jogar no calcio durante uma década
  3. Rumou a Barcelona, (...) recebendo até a braçadeira de capitão da equipa blaugrana. Sem que alguém lhe pedisse, chegou até a assumir posições próximas do nacionalismo, em defesa da autonomia, entrando no coração dos catalães, que trairia pouco depois com a transferência para o arqui-rival Real Madrid
  4. Após o Euro 2004 decidiu colocar um ponto final na selecção nacional, mas no final de 2005, quando não jogava em Madrid, recuou na decisão, solicitando a Scolari que o voltasse a convocar, até porque a selecção apesar da sua ausência já se tinha qualificado para o Mundial 2006.

18/02/2010

Alienados vs mercenários

Através de Pedro Adão e Silva, ficamos a saber que blogar pode ser uma terapia ocupacional. Com as declarações de João Galamba, confirma-se que há bloguistas que (só) escrevem o que lhes mandam, ou, para usar o seu eufemismo, pedem «ajuda a pessoas conhecidas que sejam especialistas em determinadas matérias».
Assim sendo, poderíamos esboçar uma tipologia de bloguistas, com base em duas variáveis:
  1. Variável bipolar que opõe os conceitos de escrita profissional a escrita terapêutica
  2. Variável unipolar que mede o nível de ajuda necessária, ou, utilizando uma medida inversa, o nível de autonomia da escrita

Uma hipótese bastante plausível é a de que as variáveis 1 e 2 não são independentes, i.e. há uma relação negativa entre escrita profissional e autonomia. Quem escreve com total autonomia, estará a prosseguir um fim terapêutico :) e quem "pede ajuda" tem uma motivação extrínseca para escrever, i.e. veicula (literalmente) ideias e argumentos de terceiros na expectativa de vir daí a retirar proveitos.
Como se sabe, os bloguistas mais conhecidos ocupam também espaços de opinião na imprensa e na TV, frequentemente num efeito de eco do que escrevem na blogosfera e nas redes sociais. Logo, este frenesi da opinião leva-me a propor dois tipos-ideiais de bloguistas VIP:

  1. Alienados (no sentido médico do termo)
  2. Mercenários

17/02/2010

Mais um alienista encartado

Chama-se Pedro Adão e Silva e escreveu isto:
«Pelo meio, fico também com uma certeza: a blogosfera pode revelar-se particularmente útil - representa um meio eficaz para os perturbados mentais fazerem terapia ocupacional».

Leitura complementar: Alienistas no Governo

15/02/2010

Mobilidade social

Não tenho dúvidas de que a sociedade portuguesa apresenta uma das maiores taxas de mobilidade social do mundo. Um sucateiro pode perfeitamente intervir na gestão das maiores empresas nacionais; um vendedor de publicidade estática em campos de futebol pode vir a gerir os conteúdos de um império de media, etc. Aliás, a mobilidade é dupla, já que as meteóricas ascenção e queda fazem-se sempre ao telemóvel.
Mas, mais ainda do que a mobilidade, a sociedade portuguesa exibe um excepcional nível de igualdade de oportunidades, como se demonstra na análise 'sociológica' de Alberto Gonçalves:

«O jovem Rui Não Sei Quê Soares, que os conhecidos dele acham "inteligente" e "capaz", trepou à administração da PT em dez anos, os que separam o tempo em que andava pela JS a estampar T-shirts com a cara do "Che" e o tempo em que, levando a sério a concepção de liberdade do argentino, interpôs a providência cautelar ao Sol.

Pelo meio, o jovem Rui vendeu créditos na Cetelem, desenhou websites, passou pela TV Cabo e, na PT propriamente dita, correu postos em sentido ascendente até atingir o cargo actual, pago a um milhão e duzentos mil euros anuais. Nada mau. Principalmente porque as regalias do jovem Rui incluem disponibilidade para continuar a frequentar a vida partidária, onde concorreu a líder da "jota", dirigiu o Grupo de Estudos, colaborou na campanha que elegeu o eng. Sócrates e estabeleceu interessantes vínculos entre a PT e o PS, ao fornecer telemóveis substitutos dos destruídos pelos acessos de fúria do "chefe maior" (sic) e, não menos importante, ao representar ambas as entidades no admirável negócio da TVI. Nos telefonemas interceptados (sempre o bichinho das telecomunicações), o jovem Rui trata empresas e bancos teoricamente privados por "os nossos", prova cabal da importância do moço.
Não sei a que alturas esta esperança pátria ainda chegará. A história mostra-nos que já chegou longe, e que, logo que possua ambição e duas ou três virtudes adicionais que me abstenho de enumerar, neste igualitário país qualquer um pode imitar o exemplo do jovem Rui. E o "qualquer um" é literal

14/02/2010

Papa confirma o (dogma do) aquecimento global

Então não é que o Times começou uma campanha negra contra o IPCC, dando voz a uns entitulados cientistas que ousam duvidar da tese do aquecimento global?
Este Times parece o Jornal das 9 do Crespo, convida uns botabaixistas para mandarem umas postas de pescada. Um tal de John Christy, autor principal do relatório 2001 do IPCC, diz ao jornal que “The popular data sets show a lot of warming but the apparent temperature rise was actually caused by local factors affecting the weather stations, such as land development.” Christy tem dito que as actividades humanas têm uma influência local sobre a subida de temperaturas, mas não subscreve de modo algum uma subida global, nem muito menos o que apelida de catastrofismo da "subida das águas". Ou seja, Christy renega o profeta que muitos esperavam que fosse.
O jornal convidou também Ross McKitrick, que, por sua vez, havia sido convidado pelo IPCC para analisar um relatório. Fazendo jus ao nome, Ross macriticou o IPCC: “We concluded, with overwhelming statistical significance, that the IPCC’s climate data are contaminated with surface effects from industrialisation and data quality problems".

Mas nem tudo são más notícias. Este artigo do contra termina com uma afirmação da Papa*, repondo a Verdade: “This new set of data confirms the trend towards rising global temperatures and suggest that, if anything, the world is warming even more quickly than we had thought.”

*Vicky Pope, a primeira mulher Papa.

13/02/2010

Escutas de Sócrates

Espero que nenhuma instância judicial obrigue à sua destruição!

Aqui transcrevo umas escutas a Sócrates:
«ninguém lhe passou pela cabeça que a PT pudesse ser uma empresa tão instrumentalizável, no sentido de pôr esse conjunto de órgãos de comunicação social sem garantias de independência»


«O que aconteceu nos deve levar a legislar no sentido de proibir a participação directa ou indirecta do Estado em órgãos de comunicação social, para além daqueles que fazem parte do serviço público»

O leitor também pode escutar:
http://www.tvi24.iol.pt/galeria_nova.html?mul_id=13218313

P: O que falta nesta montagem fotográfica?

R: O Pato

Foto da semana

Na semana em que os cornos voltaram à política, uma eurodeputada passou-se e chamou os bóis pelos nomes.
P.S. Também se falou da felação da Monica, mas este blogue não publica fotos pornográficas, mesmo que sejam de relações não sexuais.

11/02/2010

Providência cautelar

A prividência cautelar que é verdadeira notícia não é a de Rui Soares. É a do crónico candidato a líder do PSD, Castanheira Barros. O verdadeiro candidato CONSTRUTIVO, que já apareceu na Liga dos Últimos a vender PHOTON aos jogadores do CF de Carregal do Sal.
Em vez de Ruptura, o que o país precisa é de notícias positivas: «It sends us positive notice for the humanity . You can do it through commentaries to each notice or for email to castanheirabarros@clix.pt .»

Dr. Castanheira, e que tal uma providência cautelar aos seus blogues? :)

Entorses

Tirando as questões prosaicas, concordo em absoluto com Paulo Guinote. Destaco as lesões traumáticas:
«são pelo menos três entorses gravíssimos em matéria de transparência do regime, a saber:
  • A utilização de empresas privadas em que o Estado tem interesses fortes para pressionar outras empresas a tomar decisões favoráveis ao poder político.
  • A colocação de homens de mão, políticos de carreira sem currículo profissional que não a artimanha aparelhística, em posições chave das ditas empresas (seja a PT, seja o BCP sejam tantas outras que continuam na parte submersa do icebergue) para facilitar ou dificultar negócios, de acordo com agendas políticas.
  • A forma dissimulada de não mentir, mentindo, em declarações públicas que evitam a verdade, escondendo a mentira, em formulações do tipo I did not have sexual relations with that woman. Claro que os sexos não se encontraram propriamente, mas sexo é muita coisa…»
E as nódoas nos vestidos acabam por aparecer, acrescento eu.

07/02/2010

As minhas escolhas

Este domingo escolhi um blogue que parece que é um Tanque não sei de quê. Já o havia citado aqui, mas, para além dessa penitência, o blogue merece-me ainda duas referências:
  1. A nova área de especialização dum blogger que esteve na berra como Prof. de Economia e Analista de Política Internacional.
  2. Mais um convidado que já revelou ter em comum com o anfitrião o jeito para a estatística.
Boas leituras!

04/02/2010

Calhandrices

Almunia fez afirmações "infelizes e enganadoras" sobre o estado de saúde das contas públicas portuguesas. Tais declarações são, antes de mais, reveledoras do seu próprio estado de saúde - "a necessitar de ir para o manicómio" - o que não impediu que diversos órgãos de comunicação internacionais, numa campanha negra contra Portugal, tenham espalhado estas calhandrices, em benefício dos predadores que ganham com a subida do yield das obrigações portuguesas, a queda do PSI-20 e do Euro e com os valores recorde dos CDS.

02/02/2010

As vítimas da surpresa

O Lacaio-Mor do Reino Governador do Banco de Portugal está continuamente a sentir-se surpreendido. Sem razão, porque todos os factos que tem invocado como surpresa têm sido amplamente divulgados por outros economistas, com a antecedência suficiente para não lhe causar surpresa.
Pensava eu que ele vem manifestando ausência de reacção a estímulos e a contactos sociais, mas, afinal, Constâncio afirmou estar “muito pessimista” depois de ter feito questão de sublinhar que tem sido “surpreendido” por algumas das suas intervenções parecerem ser optimistas, quando não o são.

E o que sinto pelo orçamento são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
Os números custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir

01/02/2010

Barris?

O deputado Acácio Pinto colocou no seu blogue a sua recente "intervenção no Plenário". Não tenho intenção de contestar o que afirmou, embora haja números que carecem de esclarecimento. Só gostaria que me explicasse como podemos nós, pelo aumento da capacidade de produção das barragens, «evitar a importação anual de 3,3 milhões de barris de petróleo», quando as centrais térmicas estão a consumir carvão e gás natural?

Alienistas no Governo

A ser verdade aquilo que Mário Crespo queria ter publicado num jornal do amigo Oliveira:
«fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”)»
os citados ministros, incluindo o primeiro, parecem partilhar com os ilustres alienistas do PRP a visão segundo a qual só um problema psíquico pode impedir alguém de ver os benefícos das nossas ideias e práticas políticas (ler o meu post de 31 de Janeiro sobre este assunto).
Está quase concluída a fase do empastelamento, o grande desafio que agora se enfrenta é a construção de manicómios com capacidade suficiente para tratar bloggers, jornalistas, comentadores, raters, investidores, alguns deputados da oposição e candidatos presidenciais.

P.S. e, a propósito do PRP, qual a diferença entre este caso do JN e estoutro do Primeiro de Janeiro?

Sócrates não dorme

Não, caro leitor, não é outra vez a história da insónia por causa do desemprego. Sócrates não dorme enquanto não conseguir limpar a classe dos jornalistas.