31/03/2010

Concordo

Não é a primeira vez que aqui expresso concordância com o Léxico Familiar, mas a probabilidade de concordância aumenta bastante quando o assunto é... um monstro verde!

28/03/2010

As minhas escolhas

O site do Centenário da República anuncia uma iniciativa da C. M. de Sesimbra, «É poeta! É Fernando Pessoa». Crianças a partir dos seis anos terão dificuldade em entender o que ele escreveu, mas, para os mais crescidos, aqui fica a sugestão.
Da República
Fernando Pessoa
Ática, 12€

Das págs. 150-1:
«É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira , não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na Monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na República não era possível, porque era perigoso insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.
(...)
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
Este regime é uma conspurcação espiritual. A Monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a República veio ser.»

P.S. Como português, respeito os símbolos nacionais, independentemente de apreciações estéticas. De qualquer modo, lembrei-me desta prosa a respeito do que aconteceu ontem no Parque Eduardo VII.

O Monumento e a Bandeira

«O Programa de Estabilidade é um exercício virtual que os Estados apresentam para obedecer ao Diktat de Frankfurt de 1998», diz Medeiros Ferreira. Virtual ou não, o PEC já funciona como bandeira: «independentemente de se gostar ou não gostar do Programa de Estabilidade e Crescimento, temos que nos colocar na posição de defender Portugal perante o estrangeiro», disse o Presidente da República. «Segundo o Presidente, o país deve ter “muito cuidado” para não contribuir para que os mercados internacionais julguem mal o programa português porque assim as famílias e as empresas terão ainda de pagar “juros mais elevados”.»
E assim, um "exercício virtual" para rater ver, parece confirmar «um bloco central de palácios, paradoxalmente construído entre São Bento e Belém», nas palavras de Pedro Adão e Silva - «Se for este o caminho, chegaremos a 2013 com os partidos menorizados e um país politicamente ainda mais pobre».

É neste contexto que se compreende o aparecimento de uma grande bandeira monárquica junto ao monumento fálico ao 25 de Abril.


Cagagésimo

Nas últimas crónicas de Março, o deputado Acácio Pinto deu em preocupar-se com o PSD, como se os problemas do PSD fossem mais importantes do que os problemas do país. Para isso, procurando exemplificar divisões dentro daquele partido, veio publicamente em defesa do PEC, com o mesmo rigor com que fala/ escreve sobre energias renováveis e barris de petróleo :)

Transcrevendo:
«Mas será que o PEC não vai exigir responsabilidade e esforço aos portugueses? Claro que vai exigir. E vai sobretudo exigir um maior esforço àqueles que mais podem e que mais recebem, por exemplo, com a criação de um novo escalão de tributação de 45% em seio de IRS.
Igualmente se prevê um retardamento do investimento de algumas obras públicas para que os seus impactos não tenham efeito directo no período de execução do PEC.
Ou seja, o que o Governo e o PS querem é, sem descurar a coesão e solidariedade social, prosseguir uma linha de rigor e de justiça para, até 2013, podermos ter novamente um défice inferior aos 3%.» (sublinhados meus).

Para demonstrar que a afirmação do deputado Acácio Pinto não corresponde à verdade, não é preciso invocarmos o PSD, basta-nos reproduzir as declarações de conhecidos militantes do PS:

Paulo Pedroso: «"Repare-se que, em 2011, o Estado vai buscar mais aos pobres do que ao adiamento das infra-estruturas, e que vai, afinal, e para minha surpresa, buscar a estas prestações mais do que à famosa nova taxa de IRS de 45%

«João Cravinho diz que o Governo “caiu numa armadilha terrível com este PEC” porque “deixou cair, sem salvaguarda, sem cuidado, bandeiras de esquerda que, aqui há dois meses, ainda afirmava e que eram parte integrante do seu programa com grande relevo”. »

Efectivamente, caríssimo deputado, a receita gerada pelo escalão dos 45% é um cagagésimo, já que, como todos sabemos, é bastante reduzido o número de portugueses que declaram rendimentos do trabalho superiores a 150 mil euros. É de tal modo insignificante que o Governo nem lhe dedica uma linha no quadro dos "Principais Impactos, a partir de 2011, das Medidas de Consolidação das Finanças Públicas" (Quadro 2, p. VI), tendo-a adicionado ao "Alargamento e controlo da base contributiva da Segurança Social" para formar a rubrica "Outras medidas de reforço da receita".
Quanto ao que o sr. deputado designa "retardamento do investimento de algumas obras públicas", o seu impacto é zero em 2011 e, no conjunto dos três anos, é apenas uma quarta parte do efeito do congelamento das prestações sociais do regime não contributivo e dos tectos para o RSI e para as transferências do OE para a Segurança Social. Ou, se preferir outra comparação, é também uma quarta parte do efeito do aumento do IRS, sem contar com o tal cagagésimo do escalão de 45%.

Estamos entendidos quanto "a coesão e solidariedade social" patentes no PEC e quanto à "linha de rigor e de justiça" do seu artigo. Só falta um pouco mais de justiça - é que o PEC não dividiu apenas os deputados do PSD, também dividiu os do PS.

27/03/2010

Foto da semana

É uma República de príncipes e princesas predestinados. Apesar do aspecto sorridente, Anakin falhou e agora os crentes viram-se para Luke.

25/03/2010

PECável

O assunto está almofadado pelas exibições do Benfica mas, ainda assim, nos dias em que não há jogo, fala-se de PEC p'ra cá, PEC p'ra lá... não percebo porque há tantos portugueses interessados em discutir um plano?!
Um plano deste género é um mero exercício numa folha de cálculo de um Magalhães. Há precisamente 14 meses, o mesmo Ministro das Finanças apresentou um PEC (tecnicamente, uma actualização de um outro PEC). O documento pode ser consultado na íntegra aqui. Nada do que estava planeado nesse plano (o pleonasmo é estilístico...) coincide com o que está planeado no novo plano. Exemplificando, o plano de 2009 previa um défice de 2,3% em 2011; o plano de 2010 prevê um défice de 6,6% para 2011; o plano de 2011 previrá qualquer outra coisa para o défice de 2011; e o défice "real" de 2011 saber-se-á lá para meados de 2012.
Do mesmo modo, o plano de 2009 previa uma dívida pública de 70% do PIB em 2011. O plano de 2010 (gráfico ao lado) prevê 89,4% (92,2% se o Governo não cortasse nas prestações sociais e não aumentasse o IRS) e eu prevejo 93%. Fica aí o gráfico para memória futura...

Parece-me que agora se fala muito do PEC porque se prevêem medidas que vão mexer no bolso dos que pagam impostos sobre os rendimentos do trabalho. Secundariamente, porque uma parte da base de apoio do Governo não concorda com a diminuição de transferências para a segurança social.
No entanto, parece-me (com a ressalva de não ser economista) que nada disto funciona se não houver crescimento do denominador, i.e. o PIB. O mesmo plano confia na recuperação do investimento (que crashou completamente em 2009) e da procura externa para o tímido crescimento do PIB. Precisa-se confiança e competitividade. E é neste ponto que eu tenho uma pergunta para os economistas que sabem fazer contas:
Alguém é capaz de calcular qual o impacto que as "relações perigosas" entre o poder político, os reguladores e as administrações das grandes empresas (banca, utilities, telecomunicações, construtoras, cimenteiras) têm no défice?

P.S. Ao ler este post de um deputado do PSD pelo círculo onde votei, compreendo por que o plano se diz de Estabilidade - significa que o PSD não pode votar contra porque o PR e a direcção (?) do partido confundem deixar o governo cair de podre com estabilidade governativa e esta com "interesse nacional".

21/03/2010

Foto da semana

Hoje Jesus beneficiou de uma oferta do Espírito Santo.
O jogo foi ainda uma demonstração do fair play característico do capitão do Porto, que tem a mania de que canta de galo.

17/03/2010

Tristezas não pagam dívidas

... mas as risadas pagam IRS. Enquanto o povo se ri, continua a votar naqueles que, entre uns apertozinhos nas mamas, lhe cobram mais 2,8 mil milhões de euros de IRS (em três anos), sob a eufemística rubrica "redução de despesa fiscal"!

15/03/2010

Eleitores do Carregal - de 1878 a 1915

A manipulação simplista oficial da História da I República costuma equiparar as Revoluções de 1910 e 1974, como se ambas tivessem derrubado uma ditadura e instituído uma democracia.
Uma forma fácil de destruir este mito é provar que o direito de voto era mais alargado na Monarquia Constitucional do que foi na I República. O gráfico ao lado mostra a redução do direito de voto no meu concelho, Carregal do Sal.
As colunas representam, no eixo da esquerda, o número de recenseados. No entanto, face ao crescimento populacional, é mais preciso analisar as taxas de recenseamento, i.e. a proporção da população que constava nos cadernos eleitorais (eixo da direita).
A linha vermelha mostra a percentagem da população maior de 21 anos que estava recenseada - passou de cerca de 20% no tempo da monarquia para cerca de 10% na República. Atendendo a que, de facto, na Monarquia e de direito, na República, só os homens votavam, compreende-se melhor o efeito considerando apenas a proporção de recenseados entre os varões maiores de 21 - passou de 1/2 na Monarquia para menos de 1/3 na República.
A lei eleitoral da República instituiu o sufrágio capacitário - além de outros requisitos, era obrigatório ser do sexo masculino, saber ler e saber escrever português. A elevada feminização da população, devida à emigração, e o considerável analfabetismo, mesmo entre os varões, penalizaram a representação eleitoral de concelhos rurais, como o Carregal. Em 1915, estimou-se que residissem no concelho 14.000 pessoas, das quais 2.836 eram varões maiores de 21. Destes, apenas 1.324 sabiam ler e escrever. Outros impedimentos legais e alguns expedientes administrativos reduziram o número efectivo de recenseados para 914. Votaram 588.

14/03/2010

Foi você que viu... um porco a andar de bicicleta?

Eu não vi, mas ouvi Victor Correia dizer que viu e, desde então, a minha sensibilidade à "incredulidade" e à "estupefacção" diminuiu consideravelmente.
Pouco importa se Canas, a voz do dono que, em si mesmo, representa todas as dificuldades que um membro de um partido tem para criticar abertamente o líder, esteja farto de ver porcos ciclistas. O que importa é que 352 delegados (praticamente 2/3 dos votos) ao Congresso do PSD votaram favoravelmente «a proposta relativa às sanções aos militantes que tomassem posições contra o partido nos 60 dias imediatamente anteriores à realização de eleições».
Para o André Freire: com ou sem directas, os militantes partidários facilmente aplaudem as acrobacias velocistas dos Sócrates e Santanas da nossa democracia.
Imagem: Cata-vento de Barry Norling

Sob esta Alçada - 1

A Ministra da Educação fez currículo a contar histórias a criancinhas, mas agora que tem de debitar contos a adultos, está a evidenciar os limites da sua criatividade:
«Foi-me dito que o miniclima de Beja está relativamente diferente, graças ao Alqueva, que refrescou a cidade, e que tornou um pouco mais húmida esta zona» disse a Ministra para justificar (!?) que «o pavilhão polivalente coberto, acabado de construir - ao abrigo do projecto de requalificação do edifício escolar -, deixa entrar água a ponto de interditar o espaço às aulas de Educação Física».

A qualidade da ficção é desafiada pelo presidente da famosa Parque Escolar, que ficcionou ao mesmo nível «frisando que as condições climatéricas que têm ocorrido desde o passado mês de Dezembro "não são próprias do Alentejo"», para responder a queixas dos alunos, que comparam o pavilhão a "uma arca congeladora".

Começando pela ficcionista-mor, o conceito de miniclima é interessante e será, com certeza, aproveitado pelos seus pares no Governo que não se cansam de promover o plano de barragens na cruzada contra o aquecimento global - as barragens são refrescantes. Até pode ser que Beja se torne "um pouco mais húmida", "graças ao Alqueva" e não graças a S. Pedro, mas seria muito duvidoso que o relativo humedecimento fosse o responsável pelas condições "climatéricas" que "não são próprias do Alentejo".

Estes novelistas das alterações climáticas não têm um assessor que lhes mostre uma página do sítio do IM onde estão as chamadas "normais climatológicas" para a cidade de Beja? Lá poderiam ter visto que, fazendo a média de 30 anos (1971-2000), a temperatura mínima é inferior a 10ºC em metade do ano (Novembro a Abril) e foram registados valores inferiores a -3ºC nos meses de Janeiro a Março.
Quanto à "humidade", é verdade que a precipitação em Beja em Fevereiro de 2010 foi mais do dobro da média 1971-2000, mas há zonas muito afastadas do Alqueva - algumas áreas do Algarve, da Beira Baixa e do Douro - onde a precipitação triplicou os valores médios. Mais significativo do que isso, a precipitação excepcional de Fevereiro de 2010 em Beja foi apenas 25% superior à média do mês de Dezembro durante os 30 anos de referência.

Construir uma "arca congeladora" no interior do Alentejo apenas demonstra que esta "máquina" que deveria estar sob a Alçada da Ministra mandou construir um polivalente para 2050, quando os efeitos conjuntos do "aquecimento global" e do "Alqueva" permitirem que este equipamento funcione como banho turco!

13/03/2010

Na rede sem rede

Um jornalista do Público remexeu "o passado na rede" de Castanheira Barros e não encontrou os maravilhosos blogues do mesmo autor que eu referi neste post?!

«It sends us positive notice for the humanity . You can do it through commentaries to each notice or for email to castanheirabarros@clix.pt .»

10/03/2010

Jesus protege Santos

Que importa se 2 milhões de portugueses pagam mais impostos, quando 6 milhões continuam felizes?

«Teixeira dos Santos anunciou hoje (...) que o Benfica será campeão nacional de futebol pelo menos até 2013. A ideia é atenuar o efeito das medidas económicas a pelo menos 6 milhões de portugueses

A felicidade suprema seria poder consignar ao SLB o acréscimo de IRS que vou pagar, com o propósito de enorme solidariedade social que seria manter o Di Maria no Benfica "pelo menos até 2013".

04/03/2010

O que eles querem mesmo é mais dinheiro

Notícia hoje no Público:
«A Associação de Municípios do Alto Tâmega (AMAT) solicitou hoje uma audiência com carácter de urgência à ministra do Ambiente a fim de alertar para os “graves problemas” decorrentes da construção de quatro barragens (...)».

«“O objectivo é, em conjunto, analisarmos os pormenores do EIA. Debatermos o efeito das barragens na qualidade da água, na fauna ou na flora, nomeadamente no que diz respeito ao lobo ibérico, à lontra ou toupeira de água, ou até nas alterações climáticas que poderão ocorrer”, salientou [o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar».

Se os autarcas estivessem preocupados com os lobos, lontras, etc., teriam reagido muito mais cedo. Mas não é isso que os move. Está tudo explicado neste post de 27-3-2009:
http://beijokense.blogspot.com/2009/03/como-e-que-se-chama-isto.html


Ver também:
http://beijokense.blogspot.com/2009/05/espaco-privilegiado-de-propaganda.html

03/03/2010

Todos móveis, todos desiguais

Esta fórmula é usada para calcular, numa amostra intergeracional, o efeito do rendimento do pai sobre o rendimento do filho. É um modelo muito simples em que α representa o rendimento médio de todos os "filhos" e β e ε são os dois parâmetros que explicam o desvio de cada observação relativamente a essa média. β é o efeito do rendimento do pai e ε o efeito de outras variáveis.
Vem isto a propósito de um gráfico publicado aqui, republicado no Arrastão. O dito, reproduzido abaixo, representa β (invertido) no eixo vertical e uma medida de desigualdade de rendimentos (rácio entre os rendimentos dos 20% mais ricos e os dos 20% mais pobres) no eixo horizontal. A conclusão de João Rodrigues (Arrastão) é a de que «quanto menor é a desigualdade económica, maior é a mobilidade social», o que terá motivado esta pergunta de João Miranda: «há mobilidade social em países igualitários?».
Empiricamente, 0 < β < 1. Na ausência de "desigualdade económica" na geração do filho, β = ε = 0, logo a mobilidade "social" (devia chamar-se "de rendimento"), é a máxima possível!
Em princípio, a mobilidade é maior quando a "desigualdade económica" diminui da geração do pai para a geração do filho. Logo, a conclusão mais lógica seria, «quanto maior a mobilidade, menor a desigualdade (à chegada)», o que deveria ser acompanhado de uma troca dos eixos do gráfico... Se se quisesse 'provar' que a desigualdade gera menor mobilidade, então a desigualdade deveria ser medida "à partida", i.e. na geração dos pais.

Nota: a propósito dos valores representados no gráfico, é preciso dizer que há, da parte dos autores, uma intenção clara de "provar" uma menor igualdade de oportunidades nos EUA (e, por "arrastão", no RU), relativamente à Escandinávia. Há, pelo menos, três indícios desta intenção na selecção de dados:
  1. Desigualdade na geração dos filhos, em vez da dos pais.
  2. Valor do Reino Unido de uma coorte diferente, quando havia disponível outra, com datas mais próximas das escandinavas e um β menor! (PDF)
  3. Rendimento de filhos apenas do sexo masculino, sabendo-se que não há diferenças significativas entre os EUA e os escandinavos nos β do sexo feminino. (PDF)
Agora a minha pergunta: Quando β tende para zero, qual é a motivação dos pais para investirem na formação dos filhos?
Ensaio de resposta: Delegam a responsabilidade no α (Estado) e dizem aos filhos para apostarem no ε (telemobilidade, i.e. conseguir rendimentos superiores através do telemóvel).