30/09/2010

O CV de Oliveira da Figueira

Como diz o povo, está-lhes na massa do sangue!
Depois de ter saído um livro inteirinho sobre o CV de Oliveira da Figueira, a tentação para adornar continua irresistível, como se prova pela "Information provided by the office of Prime Minister José Sócrates". Não falo do background da "aula", nem da "imprecisão" que consiste em tentar passar a ideia de que o sr. «was one of the founders of the youth branch of the Portuguese Social Democratic Party». Vou antes notar duas coisas.

Em primeiro lugar, o curriculum académico está muito (bem) resumido - salta de «he went to Coimbra, where he earned a degree in civil engineering» para «He received an MBA in 2005 from the Lisbon University Institute». Não menciona que o sr. foi um brilhante aluno na Universidade Independente, aprovado com 18 val. a "bad english" ou "bed english" ou "fax english" ou lá o que é.

Em segundo lugar, o curriculum de governante destaca a performance do país nas energias renováveis: «The country's installed renewable energy capacity more than tripled between 2004 and 2009». Ora, segundo os dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia, a capacidade instalada das renováveis era de 5676 MW em 2004 e de 9055 MW em 2009. Como dizia o outro, é só fazer as contas - aumentou 60%, bem menos do que os 200% que eles disseram aos americanos.

O mito Teixeira dos Santos

«Como é que podemos considerar “responsável” um Ministro das Finanças que tem sistematicamente levado a cabo desorçamentações e manobras de contabilidade criativa denunciadas pelas mais diversas instâncias nacionais (Tribunal de Contas e UTAO) e internacionais (OCDE e FMI)? Um Ministro das Finanças que omitiu descaradamente a execução orçamental em 2009? Um Ministro das Finanças que deixou derrapar as contas públicas dois anos seguidos? Um Ministro das Finanças que aprovou dois planos de austeridade em que prometia cortar na despesa e fez exactamente o contrário? Um Ministro das Finanças que tem feito todos os possíveis e possíveis para ocultar (sim, ocultar) o verdadeiro estado das contas públicas nacionais e de omitir os encargos da dívida pública indirecta (das empresas públicas) e dos encargos com as parcerias público-privadas?» Álvaro Santos Pereira

29/09/2010

Certamente que não!

Isto de citar fervorosamente Valupi não é bom sinal...
Há um ano, enquanto a "outra senhora" dizia que «Suspenderemos inmediatamente los procesos de adjudicación en curso para la alta velocidade (...) priorizando la rehabilitación y desarrollo de la red ferroviaria convencional», havia quem apontasse as "direcções certas":
Para lá de Badajoz, os "alarmistas" que falavam de «superar ese síndrome constructivo» acabaram por ter algum eco no governo, e o Ministro do Fomento foi ao Congresso dos Deputados com uma cábula da "outra senhora": «se otorgará prioridad a las obras de “mantenimiento, mejora y explotación, frente a las de nueva construcción”, especialmente en los proyectos relacionados con la red de ferrocarril de alta velocidad».
Do lado de cá, os "alarmistas" estão na Missa de 7.º dia da "outra senhora" ou "acolitam" a "direita retrógrada" no "coro liberal". No pasa nada, o IVA tem as costas largas. Ou não...

28/09/2010

O outro relatório da OCDE - 3

Ao contrário de algumas manchetes (V. as notícias referidas por Olho de Gato), a OCDE não defende o aumento, nem sequer a existência do "imposto mais estúpido do mundo":

«Portugal should levy IMT only on the initial transactions of property, while abolishing many of its exemptions. In the longer term, the authorities could consider replacing IMT by VAT on new house sales.» (p. 12)

O outro relatório da OCDE - 2

Desta vez não vou citar o relatório da OCDE, vou relembrar o que disse o Ministro do Fomento de Espanha em Maio no Congresso dos Deputados, sem precisar do frete de Gurría.

«Los ciudadanos no entenderían, que cuando se les pide un esfuerzo en sus economías personales y familiares, el sector público no haga lo mismo, y sigamos construyendo más y más infraestructuras, cuando las prioridades del país, ahora, son otras
«Por todo ello, vamos a abordar esta situación reprogramando la mayoría de las inversiones que estamos acometiendo y reconsiderando las que no son imprescindibles. Esto se traduce en que vamos a posponer nuevas licitaciones, demorar plazos de finalización de obras, suspender temporalmente actuaciones e [sic] incluso anular contratos en ejecución

Por cá, só temos o Oliveira da Figueira.

O outro relatório da OCDE - 1

Ainda não tive tempo para postar mais algumas impressões do relatório da OCDE sobre educação, e já me vejo obrigado, pela agenda mediática, a postar algumas impressões sobre o Economic Survey...

A primeira impressão é a retórica do investimento em energias renováveis para diminuir o défice, a grande tese mil vezes repetida pelo Ministro das Eólicas e milhões de vezes repetida pelo Simplex.
Numa secção sobre a falta de competitividade da economia e o desequilíbrio na balança comercial, diz o relatório (pp. 27-28) [sublinhados meus]:
«Portugal's large energy balance deficit is due inter alia to structural features such as above-averafe energy dependence and energy intensity [...] To tackle these problems, as well as to reduce CO2 emissions, the government has been actively promoting strong reliance on renewable energy sources and higher energy efficiency. The ambitious targets for 2020 set in the recent National Energy Strategy, which include a 20% reduction in final energy consumption and a fall in energy dependence to 74%, are expected to reduce nete energy imports by around 2000 million euros relative to 2010. Estimating the overall impact in the current account is nonetheless more complex: the fall in energy imports and the development of energy-related industrial clusters with export potential need to be weighed against more expensive electricity from renewable sources and the opportunity cost of resources channelled into renewable energy».

Não basta uma premissa irrealista da supressão de 1/5 do consumo (será que a recessão vai ser assim tão forte?) nos próximos 10 anos para fazer uma estimativa simplex da redução do deficit externo em 2 mil milhões - é preciso saber:
Quanto nos vai custar, em saldo de transações correntes, a electricidade a um preço superior aos concorrentes?
Quanto nos vai custar, em saldo de transações correntes, a canalização de fundos para a "economia verde" em vez da sua canalização para outros investimentos capazes de gerar saldo positivo na balança?

26/09/2010

O mítico SNS

Diz o pai do SNS que há «uma direita dos interesses, aqueles que às vezes até nem pertencem bem à direita política e estão feitos com os grandes grupos económicos para enfraquecer o SNS».
Quer-me parecer que Arnaut se refere à "direita dos interesses" que está no poder. Efectivamente, segundo o relatório World Health Statistics 2010, entre 2000 e 2007, em Portugal:
  • a despesa pública com saúde aumentou 47%;
  • a despesa que os utentes pagam no acto aumentou 55%;
  • a despesa suportada por planos privados de saúde aumentou 101%.
O gráfico abaixo situa a evolução da despesa com saúde no contexto europeu, onde a maioria dos países se depara com o mesmo problema de custos crescentes e escassez de recursos públicos para os financiar. Nesse contexto, Portugal faz parte do pequeno grupo de países onde o crescimento da despesa privada foi nitidamente superior ao crescimento da despesa pública.

Assim se prova que a defesa de um mítico SNS feita pelos deputados que apoiam o Governo em funções é mera retórica...

23/09/2010

Inovas oportunidades

«“A interacção sistemática e continuada entre educação, investigação e inovação é fundamental e pressupõe, por exemplo, um aprofundar do trabalho com as empresas”.»
Nada a opor... a não ser que a inovação consista em formas mais ou menos inovadoras de garantir «o acesso a uma qualificação superior a um número crescente dos nossos jovens» (e menos jovens):
  1. Ir directamente para a universidade, sem passar pela casa da partida e sem fazer a "área de projecto".
  2. Voltar à universidade depois de algum tempo no activo, não para aprender seja o que for, mas apenas para obter um diploma pós-graduado «através da atribuição de créditos, a experiência profissional».

Adenda: Inovação também pode ser «que os miúdos aprendessem a usar o computador como instrumento curricular, em vez de se limitarem a usá-lo como máquina de jogos»

21/09/2010

Hospício

Por Alberto Gonçalves:
  1. O PS acusa o PSD de querer acabar com o "Estado social".
  2. O PSD acusa o PS de acusar o PSD de querer acabar com o "Estado social".
  3. Os partidos comunistas acusam PS e PSD de quererem acabar com o "Estado social".

Eu vou mais longe do que os comunistas e acuso PS e PSD de terem acabado com um Estado social que nunca existiu. E acuso ainda os partidos comunistas de tudo terem feito para tentar acabar com o Estado social que nunca existiu mais cedo do que realmente acabou.

P. Afinal o que é o Estado social?
R. «Um equipamento de lazer que consiste numa tábua longa e estreita equilibrada no seu ponto central usando o princípio da alavanca».

20/09/2010

Metáforas

Uma história com:
  1. Um divorciado numa discoteca
  2. Carteiristas no metro
  3. Um catequista num bordel
  4. Eleições na CGTP
É ler aqui.

15/09/2010

O emprego segundo o Eurostat

À espera da reacção de Valter Lemos, deixo as minhas impressões do gráfico abaixo, a partir dos dados do Eurostat sobre o emprego na UE hoje publicados:
  1. Há hoje em Portugal menos empregados (-6100) do que há 10 anos.
  2. O Primeiro Ministro que prometeu "criar" 150 mil empregos, apenas permitiu que se acentuasse a tendência que já se verificava antes da sua chegada ao poder - enquanto cresceu, o emprego em Portugal cresceu a uma taxa inferior à da UE.
  3. A sazonalidade do emprego é mais acentuada na UE do que em Portugal. Na actual tendência descendente, o emprego na UE ainda cresce nos trimestres "bons"; em Portugal, nem por isso.

14/09/2010

A deriva liberal

«“Os cortes de despesa pública nos países europeus demonstram que o Estado social encontrou o seu limite, mas há outras formas de dar segurança ao sector artístico e minimizar a dependência em relação ao Estado”»

Não, caro deputado Acácio Pinto, esta não é uma frase do Pontal. É de uma ministra do "seu" Governo.

59.999

«Sócrates disse ser “preciso atrair mais 60 mil portugueses às universidades portuguesas” na próxima década». O que ele queria dizer é que, para as estatísticas, são precisos mais 60 mil diplomados. Na sua cabeça vai dar ao mesmo, já que quem entra há-de trazer um diploma. Isso é que conta e... já só faltam 59.999.

08/09/2010

O relatório da OCDE - 1

As leituras sobre "o relatório da OCDE" (este é mesmo da OCDE), são múltiplas.
Este post trata da minha primeira leitura do mesmo, inspirada no pesadelo do deputado Acácio Pinto com a "deriva liberal" de Passos Coelho. Sempre que fala do seu pesadelo, o nosso deputado atribui a Passos e ao PSD o desígnio de «destruir a Escola Pública».
Ora, caro deputado, o gráfico ao lado, com dados do dito relatório, mostra que entre 2000 e 2006 a despesa pública com educação manteve-se relativamente inalterada, mas houve uma tendência decrescente da participação pública no total das despesas de educação, ou seja, o que aumentou foi a participação das famílias na despesa. E o que tem Passos Coelho que ver com isso?

06/09/2010

Antes pelo contrário

Juntos cairemos mais depressa no fosso que andamos a cavar. Parece-me que beneficiaremos mais se assumirmos as nossas "divisões", do que se as pusermos a um canto do quintal.
E parem lá com esse infantilismo: «o setôr disse que tu é que te portas mal».

02/09/2010

Reputação e audiência - II

Sobre o facto de as estimativas de reputação e de audiência (objecto do post anterior) serem obtidas a partir de duas populações diferentes, há que clarificar o seguinte:
  1. Dados do Eurostat (ainda não questionados por Valter Lemos) mostram que apenas 42% dos portugueses (dos 16 aos 74 anos) são utilizadores regulares (pelo menos uma vez por semana) da net (a quarta menor taxa de penetração da UE27, à frente da Roménia, da Bulgária e da Grécia). Logo, o "recurso a entrevistas de auto-preenchimento online" deixa de fora a maioria dos portugueses, até porque o auto-preenchimento online implicará utilizadores não apenas regulares, mas também mais experientes.
  2. No caso da TV, a discrepância acentua-se pelo facto de a faixa etária do estudo online (15-64) deixar de fora, precisamente, os maiores consumidores de televisão, que são os maiores de 65 anos.

01/09/2010

Reputação e audiência

É possível que os portugueses atribuam menor reputação aos OCS que mais lêem, vêem ou ouvem? É estranho, mas seria essa a conclusão se acreditássemos nos estudos de reputação de marcas e de audiência da Marktest.

Televisão
A líder de audiências, TVI, tem uma reputação de apenas 58 pontos em 100, muito abaixo dos 73 da RTP e dos 71 da SIC.

Rádio
A TSF (4,1%) tem menos de metade da audiência da RR (8,5%), mas é líder na reputação.

Imprensa
Nos diários, o lider incontestado de audiências, Correio da Manhã (13%), é o que apresenta menor reputação (58 pontos).
Nos semanários, a ordem de reputação já está mais próxima da ordem de audiências.

Sendo a mesma empresa de estudos de mercado a medir audiências e reputação, como se explica esta discrepância? Admitindo que os instrumentos de medida estão correctos, suspeito que os resultados não são obtidos a partir da mesma população. Tudo leva a crer que o problema reside na base de sondagem para o estudo de reputação. O "recurso a entrevistas de auto-preenchimento online" implica uma população mais escolarizada do que a média da população portuguesa. Usando uma linguagem comum, a amostra não é "representativa" da população portuguesa.

Adenda 23:00Alexandre Pais mostra aqui a evolução nas vendas em banca dos principais jornais, de 2009 para 2010. É curioso verificar que os três diários com maior reputação foram os que tiveram uma evolução negativa mais forte e que o menos reputado foi o único diário generalista que aumentou as vendas!

Patrocínios do avesso

LETRAS E CONTEÚDOS: Opinião: Passos do avesso: "A graça de Passos Coelho e o seu estado pueril eram fantásticos, no pós-congresso do PSD. [...] Ele, afinal, é o construtor de uma deriva ultraliberal para Portugal e o intérprete dos interesses económicos mais gananciosos."

Esta preocupação do deputado Acácio Pinto com a "interpretação" dos interesses económicos sugere-me, por exemplo, o modo como organismos do Estado têm "interpretado" interesses económicos do "amigo Joaquim".
Em regimes capitalistas, é comum haver "interesses económicos mais gananciosos" que patrocinam (chamam-lhe mecenato) equipamentos e actividades dos institutos públicos, obtendo um benefício fiscal e um benefício na imagem corporativa. No regime que Acácio Pinto defende, são os institutos públicos a patrocinar interesses económicos privados!
A programação da TSF inclui vários blocos de propraganda financiados ou apoiados pelo Governo e apresentados como se fossem criações jornalísticas: "Com o apoio do Ministério da Economia e Inovação"; "Um programa da TSF e da Rede de Comunicação do QREN"; "Uma parceria TSF/ Instituto de Emprego e Formação Profissional"; etc.
Agora, quando o Governo resolveu tomar partido num caso de "perturbações a um controlo antidoping", é muito interessante notar que o DN criou um site/ dossier específico sobre antidoping, com o patrocínio do Instituto do Desporto de Portugal, I.P. que engloba a Autoridade Antidopagem, "zamente" uma das partes envolvidas no caso que ocupa o noticiário do site!