21/01/2010

Três esses - S. Pedro, Sócrates e... Salazar

Com o email do deputado Acácio Pinto já fiquei esclarecido - afinal, o «já exportamos!» refere-se apenas ao mês de Dezembro de 2009 e, quando o deputado diz «No final do ano anterior 75% da energia produzida em Portugal teve a sua origem nas fontes renováveis», quer mesmo dizer final do ano, i.e. «última semana de Dezembro». O esclarecimento é importante porque confirma a tese do meu post original, a saber, que o título do artigo é propagandístico e a própria substância do artigo não se compadece com a realidade actual, a não ser nas condições muito extraórdinárias da última semana do ano!
Designadamente, os dados disponíveis não sustentam a ideia central que o sr. deputado pretende transmitir:  «devendo-se, afinal, este desempenho à opção, em boa hora, feita pelos Governos de José Sócrates nas energias renováveis».
Em primeiro lugar, como se pode ver no gráfico de produção mensal ao longo de 2009, o mês de Dezembro é muito bem escolhido. A linha tracejada, que representa os valores medidos no eixo da direita, mostra que passámos todo o ano a importar electricidade, à excepção de, precisamente, Dezembro! Embora não seja situação virgem (no meu post anterior eu mostrei que isso até ocorreu nos valores anuais, em 1999), é algo extremamente raro no período dos «Governos de José Sócrates». Como eu tinha dito, este valor negativo no saldo de importação não se deve a Sócrates, deve-se a S. Pedro, que mandou para aí chuva como há muito não fazia, acompanhada das condições de vento que permitiram um aproveitamento da capacidade das eólicas superior a 40%, sensivelmente o dobro do que se verificou entre Fevereiro e Outubro.

Em segundo lugar, como se pode ver abaixo no gráfico da produção diária do mês de Dezembro, a última semana do ano também foi escolhida a dedo - só condições "astrais" muito excepcionais permitem ter vários dias consecutivos com várias barragens aproveitadas a mais de 90%, havendo mesmo registos de 99% em Caniçada e Salamonde. Portanto, se o deputado Acácio Pinto, para além do S. Pedro, quiser atribuir o mérito deste excepcional "desempenho" a algum humano, antes de Sócrates terá de elogiar... Salazar - ups!

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