28/03/2010

As minhas escolhas

O site do Centenário da República anuncia uma iniciativa da C. M. de Sesimbra, «É poeta! É Fernando Pessoa». Crianças a partir dos seis anos terão dificuldade em entender o que ele escreveu, mas, para os mais crescidos, aqui fica a sugestão.
Da República
Fernando Pessoa
Ática, 12€

Das págs. 150-1:
«É alguém capaz de indicar um benefício, por leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da República? Não melhorámos em administração financeira , não melhorámos em administração geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na Monarquia era possível insultar por escrito impresso o Rei; na República não era possível, porque era perigoso insultar até verbalmente o Sr. Afonso Costa.
(...)
E o regime está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional – trapo contrário à heráldica e à estética porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicanismo português – o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que por direito mental devem alimentar-se.
Este regime é uma conspurcação espiritual. A Monarquia, ainda que má, tem ao menos de seu o ser decorativa. Será pouco socialmente, será nada nacionalmente. Mas é alguma coisa em comparação com o nada absoluto que a República veio ser.»

P.S. Como português, respeito os símbolos nacionais, independentemente de apreciações estéticas. De qualquer modo, lembrei-me desta prosa a respeito do que aconteceu ontem no Parque Eduardo VII.

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