15/02/2010

Mobilidade social

Não tenho dúvidas de que a sociedade portuguesa apresenta uma das maiores taxas de mobilidade social do mundo. Um sucateiro pode perfeitamente intervir na gestão das maiores empresas nacionais; um vendedor de publicidade estática em campos de futebol pode vir a gerir os conteúdos de um império de media, etc. Aliás, a mobilidade é dupla, já que as meteóricas ascenção e queda fazem-se sempre ao telemóvel.
Mas, mais ainda do que a mobilidade, a sociedade portuguesa exibe um excepcional nível de igualdade de oportunidades, como se demonstra na análise 'sociológica' de Alberto Gonçalves:

«O jovem Rui Não Sei Quê Soares, que os conhecidos dele acham "inteligente" e "capaz", trepou à administração da PT em dez anos, os que separam o tempo em que andava pela JS a estampar T-shirts com a cara do "Che" e o tempo em que, levando a sério a concepção de liberdade do argentino, interpôs a providência cautelar ao Sol.

Pelo meio, o jovem Rui vendeu créditos na Cetelem, desenhou websites, passou pela TV Cabo e, na PT propriamente dita, correu postos em sentido ascendente até atingir o cargo actual, pago a um milhão e duzentos mil euros anuais. Nada mau. Principalmente porque as regalias do jovem Rui incluem disponibilidade para continuar a frequentar a vida partidária, onde concorreu a líder da "jota", dirigiu o Grupo de Estudos, colaborou na campanha que elegeu o eng. Sócrates e estabeleceu interessantes vínculos entre a PT e o PS, ao fornecer telemóveis substitutos dos destruídos pelos acessos de fúria do "chefe maior" (sic) e, não menos importante, ao representar ambas as entidades no admirável negócio da TVI. Nos telefonemas interceptados (sempre o bichinho das telecomunicações), o jovem Rui trata empresas e bancos teoricamente privados por "os nossos", prova cabal da importância do moço.
Não sei a que alturas esta esperança pátria ainda chegará. A história mostra-nos que já chegou longe, e que, logo que possua ambição e duas ou três virtudes adicionais que me abstenho de enumerar, neste igualitário país qualquer um pode imitar o exemplo do jovem Rui. E o "qualquer um" é literal

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