15/06/2009

O efeito Diana Mantra

Na sua crónica quinzenal no Público, Pedro Magalhães sugere uma auditoria às sondagens eleitorais, para avaliar «por exemplo, as opções de amostragem, a construção dos questionários, a formação dos inquiridores ou o trabalho de campo», podendo também «apreciar as consequências de opções alternativas no tratamento dos dados, nomeadamente das "não respostas" e dos "indecisos", assim como os desvios das amostras em relação a características conhecidas da população e as maneiras de os corrigir».
Num comentário no blogue Margens de Erro, eu defendi a publicação dos dados brutos das sondagens e estou completamente de acordo com o Pedro Magalhães quanto ao escrutínio público dos métodos de sondagem. As "opções de amostragem" e a "construção dos questionários" são os dois factores de erro a que atribuí maior importância no meu primeiro post sobre a validade das sondagens, no passado 30 de Maio. Voltarei, de forma breve, ao assunto, num próximo post. Para já, quero salientar que a informação da ficha técnica que os media publicam por obrigação legal é enganadora quanto à suposta precisão das sondagens. Padece daquilo a que passarei a designar o "efeito Diana Mantra". Exemplifico com esta ficha técnica da última sondagem da Aximage para o CM, publicada poucos dias antes das "Europeias":
«Erro probabilístico: Para o total de uma amostra aleatória simples com 1274 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,014 (ou seja, uma “margem de erro” - a 95% - de 2,75%).» Um impressionante bla bla que não tem nada que ver com a sondagem em causa :). Vejamos:
«Para o total de uma amostra aleatória simples com 1274 entrevistas». A mesma ficha diz que a amostra é «estratificada (região, habitat, sexo, idade, escolaridade, actividade e voto legislativo)» e não «aleatória simples». Daí poderá não vir grande nenhum mal ao mundo, já que o objectivo da estratificação (se for bem feita!) é aumentar a precisão. Mas há outro problema sobre o qual a ficha técnica não se pronuncia. No caso desta sondagem, ficamos a conhecê-lo ao ler a notícia do CM, mas noutros casos, nomeadamente as Eurosondagens que abordei no post já referido, nada se sabe! Voltando à notícia do CM, ficamos a saber que apenas 442 dos 1274 entrevistados mostra intenção de votar, ou seja, a amostra efectiva reduz-se a um terço dos anunciados 1274. Utilizando o mesmo método de cálculo da ficha técnica, a "margem de erro" desta sondagem não é 2,75%, mas sim 4,65%.
O responsável pela sondagem reconhece o problema: «as intenções de voto nos partidos registadas nas sondagens ficam dependentes dum número muito reduzido de eleitores, o que aumenta sensivelmente as designadas 'margens de erro' das percentagens previstas para cada concorrente. Para as eleições do próximo domingo, mesmo com mais de 1200 entrevistas, os intervalos de confiança das percentagens apuradas estendem-se em cerca de 10% para o PS e o PSD e 5 a 6% para os restantes principais concorrentes.» Perante isto, há uma questão óbvia: quem está disposto a comprar sondagens com "intervalos de confiança" de 10%? Não está em causa a sondagem "acertar" ou "falhar" a percentagem de votos de um partido que vier a verificar-se na eleição. O problema é que, dum ponto de vista jornalístico, estas amostras de reduzida dimensão, com enormes intervalos de "previsão", não têm qualquer valor, pelo que não consigo compreender o interesse dos media na sua aquisição - terão comprado gato por lebre? Ou foram aconselhados pela Diana Mantra?

1 comentário:

  1. Anónimo7/7/09 10:10

    Não é possível aperfeiçoar o meu próprio teste empírico... vendo fotografias das ditas?
    MM

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