Através deste post de Pedro Almeida Vieira, cheguei a esta afirmação no DN de hoje: «em 1979, com uma população bem menor do que a actual, morriam neste país 8000 crianças antes de cumprirem um ano de vida; hoje, morrem 320».
Em primeiro lugar, estranho os números. O INE diz que em 1979 morreram pouco mais de metade dos propalados 8000. Em segundo lugar, e isso é realmente o importante, pior do que comparar a evolução em números absolutos (8000 vs. 320), só mesmo compará-los com a população ("população bem menor do que a actual"). Ó sr. Director, se a natalidade for baixa, esse rácio é necessariamente baixo, já que, se não nascer ninguém, também não será fácil que morra alguém com menos de um ano de idade.
Está-se mesmo a ver que a taxa de mortalidade infantil se calcula dividindo óbitos de pessoas com menos de um ano por nados-vivos. É isso que apresento no quadro abaixo, na forma usual de permilagem. Não vale de nada o facto de a população ser agora "bem maior" do que em 1979. Se a taxa de mortalidade não se tivesse alterado de 1979 para cá, teríamos agora 2667 mortos com menos de um ano (última coluna), muito menos do que os 8000 que o sr. jornalista imaginou e bastante menos do que os 4172 que foram registados.
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Obviamente, isto em nada diminui o mérito da redução deste indicador. A taxa de 2007 é 7,5 vezes menor do que a de 1979. É apenas a constatação de que o jornalista utiliza uma desinformação numérica para fazer valer a sua opinião - sem necessidade, porque os números correctos seriam suficientes.
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