A Causa das Coisas Assírio & Alvim, 14,4€ Crónicas escritas por MEC há um quarto de século, mas que se mantêm actuais. Lei abaixo o extracto da "causa" Arranjar. |
«Enquanto tudo se continuar a arranjar nada se há-se conseguir em Portugal. O mercado dos arranjos, dominado por uma multidão imensa de arranjistas e arranjões, é maior e está mais bem implantado que qualquer mercado negro. Para sair da mentalidade viciosa do arranjismo nacional, é preciso que cada português comece a distinguir entre arranjar e conseguir. Arranjar é obter algo por razões alheias ao mérito próprio e à justiça das circunstâncias - e logo representa tudo o que Conseguir, leal e esforçado, não é. O arranjismo pode ser um reflexo do subdesenvolvimento, mas também é ao mesmo tempo, o principal motor dele. Assim como não se arranjou chegar à Índia, ou acabar com a pena de morte, ou escrever Os Lusíadas ou a Mensagem, ou qualquer outras das coisas boas que os portugueses conseguiram fazer, sem truques ou manigâncias ou espertezas saloias, também não se há-de arranjar sair deste poço cultural em que caímos. Arranjar é próprio de um país miseravelmente possível («Desculpem, mas não foi possível arranjar mais...»). É preciso começar a conseguir as coisas, seja com que dificuldade for. Senão, Portugal chegará a um ponto em que nem arranjo há-de ter».
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