20/01/2010

A culpa de S. Pedro

Acácio Pinto, ex-Governador Civil de Viseu e agora deputado pelo distrito, escreveu no Farol da Nossa Terra um pequeno artigo com o título Energia: já exportamos! Passando do título à substância do artigo, o que se depreende é que, no mês de Dezembro, «75% da energia produzida em Portugal teve a sua origem nas fontes renováveis» e «Portugal, ter exportado mais energia para Espanha do que aquela que importou». O que o sr. deputado não quer dizer é o mais importante. Apesar de grandes vultos da ciência, como o dr. Mário Soares, garantirem que a acção humana substituiu o S. Pedro, essa mesma acção humana ainda não é capaz de garantir as condições meteorológicas para uma produção constante de energia eléctrica a partir da água e do vento. Logo, historicamente, os picos de produção a partir destas fontes situam-se entre Dezembro e Março. O sr. deputado quer-nos dizer que percentagem de "energia produzida em Portugal teve a sua origem nas fontes renováveis" no mês de Junho?
Se há flutuações dentro de cada ano, há também flutuações entre anos. Quando chove muito, produz-se mais energia nas instalações hídricas e reduz-se a produção através de fontes combustíveis. Quando chove menos, há que produzir mais nas centrais térmicas. Os dados anualizados da Direcção-Geral de Energia e Geologia mostram que, de Novembro de 2008 a Outubro de 2009 (os últimos que aquele organismo disponibiliza ao público), a percentagem de energia de fontes renováveis (incluindo as menos limpas biomassa com co-geração e a gerada a partir de RSU) foi de 31,5%, muito longe dos 75% que o sr. deputado nos quer vender.
Mostram também os números que, nos últimos 15 anos, 1999 foi o único em que Portugal exportou mais energia eléctrica do que aquela que importou. O deputado Acácio Pinto apresenta a ideia de que a «opção, em boa hora, feita pelos Governos de José Sócrates nas energias renováveis (...) [permite] nos tornar menos dependentes do estrangeiro e das energias fósseis», mas o que os números me dizem é que, durante esse período de governação, se importou mais energia do que no quinquénio anterior. Talvez por culpa do S. Pedro, que dirige a única Entidade Reguladora não controlável - a da meteorologia.

Pós-texto 21-1-2010 22:45 - Aconselho a leitura da resposta que me enviou o deputado Acácio Pinto (aqui) e da minha análise com informação gráfica da produção de electricidade para demonstrar que o que ocorreu em Dezembro de 2009 é excepcional e não pode ser atribuído aos «Governos de José Sócrates» (aqui).

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