13/01/2010

Desanda

Estamos em 2010 e o PS do Carregal do Sal não consegue andar para lá das autárquicas de 2009! Volta e meia, desanda para Outubro de 2009. O regresso mais recente é uma crónica Andante de um crónico dirigente da concelhia (link para o Farol da Nossa Terra).
A tese principal de José Craveiro é a de que a lista do PSD para a AM perdeu votos relativamente à lista para a CM. Pelo enquadramento histórico - que o próprio resumidamente faz, mas que, em devido tempo, foi feito em detalhe por Jorge Saraiva no Defesa da Beira - torna-se difícil estabelecer se a diferença sistemática de votos entre as duas listas do mesmo partido se traduz em perda de votos da AM relativamente à CM ou em ganho de votos da CM relativamente à AM. Muitos dirão que é indiferente, mas não o é, nem para as conclusões e insinuações da crónica Andante, nem para a interpretação dos resultados que eu fiz e publiquei (uma primeira abordagem em 13-10-2009 e uma segunda, em resposta a um trabalho de Lino Dias, em 20-10-2009).
Nesses artigos, sustentei a minha análise em factos que são descortináveis pela inclusão dos resultados para as Assembleias de Freguesia:
  1. Historicamente, a votação do PSD para a AM fica sempre entre as votações para a AF e para a CM. No ciclo descendente do PSD (i.e. de 2001 para 2009), a fuga de votos foi menor na AM (812) do que na CM (820) ou nas AFs (968).
  2. Em 2009, o PSD perdeu claramente para o CDS as votações para a AF nas secções de voto de Fiais e Parada, onde recuperou muitos votos para a AM e ainda mais para a CM.
  3. Na comparação entre votações para AM e AFs, pode dizer-se que a lista do PSD à AM "ganhou" 205 votos, enquanto a do PS "perdeu" 159 e a do CDS "perdeu" 172.

Tal como o dito trabalho de Lino Dias, esta crónica Andante aposta no menosprezo do resultado da lista do PSD à AM e pretende insinuar "ironias no destino" na eleição democrática da Mesa da Assembleia, a coberto de uma errada "matemática eleitoral". Conhecimentos básicos de "sociologia eleitoral" permitiriam dar mais crédito à hipótese de que, tal como em eleições anteriores, o presidente recandidato conseguiu mais votos do que a lista do seu partido à AM (a maioria no espaço do CDS, mas também alguns no espaço CDU), em vez dessa hipótese mais conveniente de que os eleitores «recusam o candidato à Assembleia Municipal».
Quanto ao resto, Craveiro comete o mesmo erro de apreciação que já li / ouvi a dois elementos da bancada do PS na AM - uma suposta necessidade de que um candidato (especificamente, o 1.º) da lista mais votada seja o presidente da AM, para que seja respeitada a «vontade dos eleitores». Exponho os meus comentários relativamente a este erro:
  1. A eleição para a AM não exprime a «vontade dos eleitores» em relação ao Presidente da Assembleia. Nos casos da AF e CM, embora votem em listas, os eleitores sabem que estão a escolher também o Presidente. No caso da AM, os eleitores sabem - ou deviam disso ser informados - que estão apenas a votar uma parte (no nosso município, corresponde a 75%, mas há alguns em que corresponde a pouco mais de 50%) dos membros da AM. A outra parte é composta pelos Presidentes de Junta, membros de direito tão pleno quanto o dos eleitos directamente. Dessa igualdade de direitos, decorre imperiosamente que o Presidente só pode ser eleito indirectamente, pelos membros que compõem o órgão.
  2. A «vontade dos eleitores» (relativamente aos membros eleitos directamente) traduziu-se num resultado de 'apenas' 45% na lista mais votada (considerando apenas os votos nas listas). Os restantes votaram noutras três listas e, seguindo arrazoado semelhante ao de José Craveiro, poder-se-ia dizer que a sua vontade não seria eleger nenhum membro do PS para a Presidência do órgão. O PSD e o CDS congregam 53% dos votos em lista, 52% dos membros eleitos directamente e 54% da Assembleia.
  3. Os membros da AM, quer os directamente eleitos, quer os Presidentes de Junta, têm o dever de assumir todas as responsabilidades que lhes foram delegadas pelos eleitores. Não foram eleitos para fazer conjecturas sobre alegadas vontades que o voto não permite manifestar. Foram eleitos para, em cada momento, confortáveis com a sua consciência, decidir o que é melhor para a governação do Município. Só pode ter sido isso que fizeram os 28 deputados que votaram entre as duas listas levadas a sufrágio secreto, no acto eleitoral que, volta e meia, desanda no PS.

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