Há embustes bem evidentes, como quando o Governo decide que os meus impostos servem para ajudar a vender um "electrodoméstico" de uma empresa privada, escolhida pelo mesmo Governo - sabe-se lá com base em que critérios! - e tem o desplante de me tentar convencer de que esses meus impostos são muito bem empregues na "causa" do arrefecimento global.
Há outros menos evidentes, que parecem resultar de estratégias de comunicação profissionais. A propaganda criou um grande consenso nacional "em torno" das "energias renováveis", i.e. do financiamento público de projectos insustentáveis que poderão vir a condicionar o futuro de vastas áreas do interior de Portugal.
Os autarcas e as "comunidades" (e.g. comissões de baldios) andam felicíssimos com as "contrapartidas". As organizações ecologistas estrebucham aqui e ali por causa dos impactos destas construções na biodiversidade, mas acabam por ceder face a argumentos como a emissão do CO2 ou o fantasma nuclear. Mas há perguntas chatas que têm de ser feitas: Quem paga a insustentabilidade dos projectos? Quem paga o diferencial de custo na energia cuja produção é mais cara? Quem paga o custo de oportunidade dos empregos que poderiam ser criados noutros sectores com o mesmo financiamento público? Quem paga o desmantelamento dos parques eólicos quando se tornarem obsoletos?
Segundo um artigo de S. Moore no WSJ, o voluntarismo do Gov. Schwarzenegger no combate ao aquecimento global terá contribuído para o arrefecimento da economia californiana. Conclui o autor que as políticas verdes levam as finanças ao vermelho. O que é mais criticável é a ideia de apresentar a "aposta nas renováveis" como um enorme conjunto de benefícios e praticamente sem custos! Não só financeiros, como ambientais e sociais. O que o caso californiano evidencia é que os abundantes "estudos" de custo-benefício da política anti-aquecimento subestimaram os custos com elevada dose de despudor.
Transformar uma área de negócio de alto risco no maior desígnio nacional desde a expansão ultramarina é uma parada alta. A falta de credibilidade das análises custo-benefício não é bom augúrio. A despreocupação do ministro Pino relativamente a todas as perguntas que começam por «Quem paga...» deveria ser fonte de preocupação para os contribuintes. Os custos das viagens Falcon são de somenos. Os custos do pomposamente chamado «New Energy World» (ver Público de hoje) também não têm grande relevo, a não ser pela contradição entre a propaganda que diz que «é uma iniciativa do Ministério da Economia e da Inovação, que apoiado por várias empresas do sector, vai reunir 100 jovens de vários países para conhecerem o que Portugal faz de melhor nas energias renováveis, área em que somos um dos países mais avançados do mundo», e a notícia do jornal, que subtrai 1/5 dos estudantes e não encontra quem pague...
Mas os custos implicados nas minhas perguntas já são muito significativos. Eu ficaria muito mais tranquilo com estudos que estimassem correctamente os custos e governantes que se preocupassem com o respectivo pagamento. Como diz o outro, «Ninguém nos perdoaria se, daqui a 15 ou 20 anos» se verificar que destruimos umas quantas serras e vales em vão.
Caro Beijokense, obrigado pela visita ao meu blog e aceito com agrado comentar este seu artigo que está muito bem escrito e com o qual concordo parcialmente. Sou insuspeito porque, sem falsa modéstia, fui o principal impulsionador da energia eólica em Portugal, apesar de ter permanecido sempre «encoberto» por razões políticas. Explicando melhor, se eu tivesse partido, fosse qual fosse, hoje seria um senhor, talvez na EDP ou até na CGD.
ResponderEliminarO desvio que tudo sofreu - não duvido que aproveitar qualquer tipo de energia endógena é em princípio bom -, deve-se ao espírito mercantil dos governos e à febre de vender dos fazedores de tecnologia do Norte. Se você não paga o combustível, paga o custo do capital. Nada disso faz sentido se não for feito com tecnologia nacional. De que vale ter a maior central fotovoltaica do mundo se o kWh nos custa a módica quantia de 60 cêntimos? Porque Portugal não produz know-how próprio? Porque a «máfia da tintura» não está interessada nisso e dizem que somos pobres e não nos podemos dar ao luxo de gastar em investigação. Uma cambada de mentecaptos que nos (se) governa.
Nestes moldes em que a eólica está a ser «desenvolvida», tem toda a razão em se opor a ela. No que toca aos aspectos ecológicos, não há argumentos contra a energia eólica.
Abraços
Obrigado, Zé Biológico.
ResponderEliminarEu não me oponho à eólica. Simplesmente, na minha ignorância, sinto necessidade de maior informação e de transparência na política. Se esta «aposta» vai absorver tantos recursos e alterar profundamente (para não dizer destruir) a paisagem de serras como o Caramulo, e de rios peculiares como o Tua e alguns afluentes do Tâmega, seria exigível uma rigorosa contabilização dos custos.
E é perfeitamente dispensável a propaganda sobre «o que Portugal faz de melhor nas energias renováveis, área em que somos um dos países mais avançados do mundo», já para não falar no alarmismo do aquecimento global, ou do climatismo como lhe chama.