Como os leitores terão suspeitado, dada a interrupção na postagem, estive uns dias "fora". No caso, como "
toda a gente que interessa", "fora" foi "cá dentro". O que não impede que parte das minhas despesas nesta actividade turística vão para fora: o proprietário da casa que aluguei reside no Reino Unido; o condomínio foi construído por espanhóis e é mantido por empregados "de Leste"; várias refeições foram-me servidas por brasileiros; etc. Certinhos para ficar "cá dentro" são o ISV, IUC, ISP, IABA, IVA, IRC e IRS (e mesmo estes, como sabemos, apenas transitam pelos cofres porque haverão de ser reclamados por quem de direito!) directa ou indirectamente cobrados na sequência desta minha - sei-o agora - "
atitude [sic] patriótica".
Em consequência da minha abstinência de net, só hoje tive conhecimento de uma
suposta polémica entre titulares de órgãos de soberania sobre os benefícios de passar férias "cá dentro". Na terceira parte da contenda, o Presidente da República
"rematou" [sic]: «
Sei muito bem daquilo que falo, porque conheço os números». Acredito que, se Cavaco Silva tivesse um blogue, haveria de ter uma extensa
tag "
Números" :) Este blogue também gosta de números, pelo que aqui ficam uns que interessam ao tema:
O gráfico representa a varição nominal de três variáveis:
a linha verde representa as despesas das «férias passadas no estrangeiro [que] são importações e aumentam a dívida externa portuguesa»;
a linha vermelha representa as receitas que, seguindo a mesma lógica, são exportações e diminuem a dívida externa portuguesa;
a linha azul representa o consumo gerado pelo turismo, quer dos residentes, quer dos não residentes.
Como o Presidente da República
conhece os números, sabe que os portugueses já lhe fizeram a vontade em 2009, i.e.
gastaram no estrangeiro menos 8% do que haviam feito em 2008 (a bem da verdade, alguns desses patrióticos não são turistas, já que as despesas feitas em Espanha pelos trabalhadores que mantêm residência em Portugal entram nesta rubrica). E sabe também que a diminuição da despesa (importações) não chegou para compensar a perda de receita (exportações). Ou seja, sabe que
o facto de os portugueses gastarem menos no estrangeiro não impediu que, comparativamente a 2008, a "dívida externa" tenha aumentado 300 milhões de euros "por causa" do turismo.
Mais: ao contrário do ministro do golfe, que acreditava em
sondagens online para dizer «
fico triste ao ver que os portugueses preferem ir para o estrangeiro» (agradeço a Helena Matos a
recuperação deste link), Cavaco Silva sabe que
é muito reduzido o número de portugueses que faz férias no estrangeiro, pelo que o seu
apelo não poderá ter significativos efeitos práticos.