02/09/2009

TGV para Olivença

Estive de férias num país que deixou deteriorar a um nível absurdo a rede ferroviária que ligava as regiões mais povoadas. Enquanto se discute (?) o trem-bala, restam umas linhas museológicas/ históricas/ turísticas (foto ao lado) e uma ou outra utilizada no trasporte de mercadorias a velocidades na ordem de 20 Km/h.

Foi ainda em férias que tive conhecimento de uma "medida" do programa eleitoral do PSD, em castelhano (ABC, 29-8-2009): «Suspenderemos inmediatamente los procesos de adjudicación en curso para la alta velocidade». «El partido liderado por Manuele Ferreira Leite considera que es imprescindible la puesta en valor del sector ferroviario portugués, priorizando la rehabilitación y desarrollo de la red ferroviaria convencional (...)» (sublinhado meu). Gostei de ler ;)

A notícia vinha na secção sobre a Extremadura, já que o anúncio de MFL deixa preocupados os estremenhos. «De ganar las elecciones el PSD, la línea AVE que afecta a Extremadura quedaría en suspenso en el tramo Lisboa-Badajoz, no cumpliendo así los pactos internacionales firmados con España (...)» (sublinhado meu). Nesta questão de pactos internacionais, seria bom recordar aos responsáveis estremenhos o Congresso de Viena. Já que se propõem a construir a linha do AVE "independentemente do que fizerem os portugueses", sugiro que a levem até Olivença :)

P.S. lembrei-me dum post que escrevi há dois anos... e disto! :(

2 comentários:

  1. Em Olivença nunca houve comboio (trem) e nunca haverá. Infelizmente.

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  2. Anónimo7/9/09 11:16

    ESTRANHOS ARGUMENTOS EM TORNO DO TGV
    Não é intenção deste artigo de opinião emitir juízos sobre a construção, ou não, do
    TGV (Madrid-Badajoz-Elvas-Lisboa), da sua oportunidade, ou outras considerações. Para
    isso, muito se tem escrito e escreverá, e será óptimo que a opinião pública esteja o mais
    esclarecida possível.
    Há, todavia, um aspecto que deixa qualquer conhecedor de um mínimo de História das
    relações luso-espanholas algo perplexo. Na verdade, declarações de dirigentes espanhóis,
    principalmente do Presidente da Extremadura espanhola, não podem deixar, no mínimo, de
    fazer sorrir alguns portugueses.
    Assim, Guillermo Fernández Vara (natural de Olivença) diz não acreditar que Portugal
    desista do TGV, «rompendo o acordo entre os dois países», pois trata-se de um
    «compromisso internacional»; acrescenta que «Portugal, à semelhança dos seus dirigentes
    políticos, é um país sério que sabe até onde tem de caminhar para preparar o futuro(...)».
    Comentaristas de jornais espanhóis opinam que Portugal não honrará os seus
    compromissos se desistir do TGV, e que mesmo em termos morais tal atitude é criticável.
    No dia 1 de Setembro, numa reunião em Elvas entre autarcas portugueses e espanhóis
    (Cáceres, Mérida, Plasencia, Olivença e Lobón) para apoiar o TGV, Angel Calle, de Mérida,
    em representação dos alcaides espanhóis, afirmou, entre outras coisas, que «os acordos
    internacionais são para cumprir(...)».
    Ora, há algo nesta indignação que soa a contradição flagrante. Na verdade, todos estes
    dirigentes políticos parecem esquecer-se de que, para Portugal, há um acordo
    internacional não cumprido pela Espanha (1814-1815-1817), segundo o qual Olivença deveria
    ter voltado à posse de Portugal. Razão porque o Estado Português não aceita, até hoje,
    que Olivença seja território juridicamente espanhol. Curiosamente, em relação à obrigação
    da devolução, e talvez como ironia suprema face ao que está a acontecer, houve até quem
    já escrevesse que a Espanha só teria uma obrigação moral,
    portanto não claramente vinculativa.
    Será que todos estes autarcas e políticos em geral têm consciência de como soam a
    falaciosos, neste contexto, alguns dos seus argumentos?
    Conheço alguns deles. Penso serem pessoas de bem, e dirigentes que fazem o que podem
    pelos seus povos, e até que querem mesmo promover a amizade com Portugal. Não questiono
    esse aspecto, nem os inúmeros argumentos económicos a favor do TGV. Talvez apoie, ou não,
    alguns deles.
    Mas, por favor, não usem demasiado o argumento do respeito por tratados
    internacionais. Não lhes fica bem.
    Estremoz, 02 de Setembro de 2009
    Carlos Eduardo da Cruz Luna

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