«Portugal é o segundo país europeu com maior incidência de infecções» é o título de uma notícia da Lusa. Razão para alarme? Não, já que «as contas foram feitas pela agência Lusa com base na listagem de casos divulgados hoje no portal do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças e no número de habitantes dos respectivos países». Como já demonstrei várias vezes neste blogue, os jornalistas portugueses em geral e os da Lusa em particular não sabem fazer contas, por isso não vale a pena ficar preocupado com os seus cálculos.
A notícia em causa remata com a seguinte conclusão: «Apesar de ser o segundo país europeu com maior incidência de infecções de gripe A (H1N1), Portugal não regista casos mortais (...)». Nada que leve o jornalista a duvidar das contas que originaram o título. Não será estranho um país ter grande incidência de infecções e nenhum caso mortal? Serão os portugueses mais resistentes? Será o vírus mais amigável para os lusos? Terão os hospitais portugueses algum remédio secreto desconhecido dos restantes países?
É óbvio que a explicação deve estar nas estatísticas e na falta de conhecimento dos responsáveis pela notícia. É simples e encontra-se nas notas de rodapé das tabelas da OMS: «Given that countries are no longer required to test and report individual cases, the number of cases reported actually understates the real number of cases». Com a propagação da gripe, o número de infecções deixou de ser analisado e controlado, as comparações internacionais só podem ser feitas pela taxa de letalidade, i.e. número de mortes por gripe A por 100 mil hab. Muitos países já não têm números sobre infectados, tendo-se chegado à conclusão de que a taxa de infecção é fortemente subestimada, dado que a maioria dos casos nunca chegam a ser testados, seja pela falta de sintomas, seja porque os infectados não procuram assistência médica.
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