A divulgação de duas sondagens eleitorais recentes trouxe novidades - pelo menos no que respeita à ficha técnica!
A sondagem do CESOP que "dá" uma esmagadora vitória a Rui Rio, foi divulgada na comunicação social com uma inovação nas margens de erro: em vez de uma margem única que corresponderia ao total da amostra, diz-se que «as margens de erro máximas estão situadas entre 3,7 e 4,2 por cento, com um nível de confiança de 95 por cento». Num post de 15 de Junho, eu salientava que «a informação da ficha técnica que os media publicam por obrigação legal é enganadora». Esta abordagem do CESOP é um progresso, ao apresentar uma margem de erro para o total da amostra (3,7) e outra para a parte da amostra que revelou intenção de voto (4,2). No entanto, como já por várias vezes o escrevi, não são estas as margens de erro que verdadeiramente interessam!
Já a divulgação do barómetro de Junho da Marktest, que inclui uma sondagem sobre intenção de voto nas legislativas, inaugura uma glasnost na indústria das sondagens! Para contrariar o problema de difícil interpretação jornalística das sondagens, a ficha técnica do barómetro insta os órgãos de comunicação a remeter os leitores para o site da Marktest e os jornalistas a lerem a ficha detalhata, disponibilizando o contacto de email de um técnico para esclarecer dúvidas. Aplausos para a iniciativa! Sem ter consultado Bárbara Gomes, deixo aqui a minha visão sobre o que de mais interessante achei nesta ficha técnica detalhada.
Em primeiro lugar, a divulgação do número de contactos estabelecidos e a ventilação de quantas entrevistas foram feitas à kª tentativa. É muito importante verificar que foram chamados 21560 números de telefone para obter 800 entrevistas válidas. Foi para esta realidade que procurei chamar a atenção dos leitores no meu primeiro post sobre sondagens e, sobretudo, para a forma como ela não é reflectida nas fichas técnicas.
Em segundo lugar, um indicador de qualidade é a insistência no número de tentativas para obter a entrevista. A sondagem demorou cinco dias porque houve um esforço para conseguir entrevistar o elemento do lar seleccionado. Tal não é possível quando se fazem sondagens de dois dias, como eu disse aqui, criticando particularmente o CESOP por ter realizado uma sondagem em apenas dois dias, no fim-de-semana do 25 de Abril, mas pensando também nas sondagens telefónicas da Eurosondagem. Note-se que esta "obrigação" de "esperar" pelo elemento seleccionado nem sequer é determinante no método de quotas, utilizado pela Marktest, é-o muito mais no caso dos concorrentes que utilizam uma selecção (dita) aleatória.
Em terceiro lugar, a divulgação das perguntas utilizadas. Algo que teria sido muito últil para compreender as discrepâncias entre os valores de "abstencionistas" apresentados por diferentes sondagens para as eleições europeias.
Em quarto lugar, a apresentação do "erro estatístico máximo" de cada ventilação. Neste caso, o ideal seria apresentar os erros das percentagens obtidas, em vez dos erros máximos para as sub-populações.
Em quinto lugar, a disponibilização das tabulações. Infelizmente, não foi apresentada para a intenção de voto nas legislativas, mas apenas para as habituais perguntas do barómetro (ou está nalgum sítio que não atingi?) Com estes dados e um conhecimento básico de estatística, é possível calcular intervalos de confiança, margens de erro, diferenças entre respostas, entre sub-populações, etc.
Finalmente, uma exposição clara do método de projecção de voto nas legislativas, apresentando, para além da projecção, as percentagens brutas e as percentagens relativas dentro dos respondentes que manifestaram intenção de voto. Sabe-se, assim, que dos 800 inquiridos, apenas 452 revelaram intenção de voto - uma informação muito importante para a Diana Mantra ;)
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