28/11/2007

PIDE-DGSAE

Ando há algum tempo para escrever sobre este assunto aqui no Beijós XXI, mas não tem havido tempo, nem o caso é urgente :) No entanto, nos últimos dias, vários cronistas do Público lhe dedicaram atenção, o que despoletou a minha intenção de, finalmente, fazer esta postagem.

Começa a crónica de António Barreto, no passado Domingo: «A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente». Mais abaixo: «A solução final vem aí. (...) Estes exércitos de exterminação são poderosíssimos». Passe a figura de estilo, é disto mesmo que se trata, uma verdadeira (intenção de) exterminação! A pretexto de "segurança alimentar", a UE e o Estado querem regular o mínimo detalhe do que, como, quando e onde um cidadão pode comer ou beber. E o "exército" é bem nosso conhecido, a Direcção-Geral de Segurança (Alimentar e Económica). Ah, não é Direcção-Geral? Peço desculpa, mas parece!

António Barreto não o diz explicitamente, mas trata-se de uma exterminação a três níveis:


  1. O mais óbvio, o económico. Um dos objectivos é integrar a maior fatia possível da economia dentro do sistema fiscal. De modos que a Beijokeira já não pode ir a Beijós comprar galos, coelhos ou ovos às vizinhas, é proíbido! E trazer uns legumes da Fontanheira, talvez só "com guias". Enquanto alguns países procuram fazer reviver os mercados locais de produtos tradicionais, aqui extermina-se quem os poderia produzir e os "verdadeiros" produtos tradicionais têm obrigatoriamente de ser industriais!

  2. O segundo nível é o cultural. A foto que aqui deixo vai ser um verdadeiro monumento arqueológico. Vai ser muito difícil à geração do babete Beijós XXI acreditar que "antigamente" se criavam porcos com farinha moida pelo moleiro da aldeia, couves e os restos de comida lá de casa e das casas vizinhas, que agora se tornaram nos incómodos "resíduos orgânicos".
    Segundo notícia do DB transcrita no Carregal Digital, formou-se em Cabanas a Confraria do Galo, que se dedica a comprar galos no leilão de oferendas dos Bombeiros e a comê-los de cabidela. Claro que o diligente exército haverá de por termo a esta afronta - primeiro, os galos só poderão ser leiloados na presença de um veterinário, depois terão de ser abatidos num matadouro oficial, e acabar-se-á pura e simplesmente por proibir estas oferendas em géneros.
    É apenas um exemplo do que serão as consequências desta política no plano cultural. Outras já se estão a fazer sentir em todas as cidades, onde a DGS(AE) está a fechar todas as tabernas, tascas, casas de petiscos em geral, para se poder abrir crêperies, pizzerie, McDonald's e afins. É caricato os folhetos turísticos falarem do "ambiente único" desses estabelecimentos, das comidas e bebidas típicas, quando os turistas só poderão encontrar a mesma coisa que encontram em todo o mundo "civilizado".

  3. Finalmente, há um objectivo político de exterminar a liberdade individual. O Estado e a UE não só sabem o que é bom para nós, como nos querem obrigar a fazer apenas o que é bom para nós!
    Cozer broas num forno tradicional, de farinha feita em moinhos de água, a partir de milho não transgénico, amassada numa "insalubre" masseira de madeira! Isso é um quádruplo crime - os produtores vão acabar na prisão e os consumidores (principalmente aqueles que se vêem debaixo da parreira a dar cabo de uma bola de chouriça) vão ser obrigados a prestar serviço comunitário no intervalo das curas de desintoxicação numa clínica McDonald's.
    Maior crime será um almoço de porco no espeto com arroz de feijão da Fontanheira cozinhado pela D. Rosa. Paciência, meus caros, o próximo convívio do Beijós XXI é a seco! A não ser que o trajecto da caminhada passe num McDrive...

02/03/2007

Com uma mão à frente e... a outra também!

[Este post é uma ficção com conteúdos para adultos; se tens menos de 18 anos, clica aqui]

Era uma vez...
um país chamado Portugal.
Portugal herdou de seu pai, Afonso, elevados níveis de testosterona e eventual excesso de dopamina. Foi um puto traquina e um adolescente aventureiro. Ainda criança, foi apresentado a Inglaterra, de quem se tornou amigo, mas sem vontade de casar. Conheceu também Flandres, mas achava-a desengonçada - na verdade, não se sentia atraído pelas raparigas europeias, muito pálidas e demasiado vestidas para o seu gosto, perdia-se antes pelas mais exóticas, quentes e húmidas...

Índia foi a sua grande paixão, pouco mais que platónica, diga-se. Portugal ainda se lambuzou em novos cheiros e sabores, mas Índia nunca permitiu grandes avanços, a impetuosidade de Portugal não combinava com a sua filosofia tantra. Entretanto, nos intervalos do flirt com Índia, Portugal ia reparando em África, uma jovem com fabulosos atributos naturais, mas sem o encanto inebriante de Índia. Já não era jovem quando se convenceu que Índia nunca iria ser sua. Resolveu que era tempo de assentar - decidiu-se a casar com África. Nem chegou a perguntar a opinião à sua consorte, seguiu o método africano, casa primeiro e pergunta depois, à boa maneira de seu pai (de namoro já ele estava farto com a Índia, além do mais não tinha dinheiro para o dote). Apesar do método, Portugal estava convencido de que esta História tinha chegado ao ponto em que se diz «tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre!».

Mas não foram. O vigor de Portugal já não era o de outrora e ele vivia atormentado com a ideia de não conseguir satisfazer África. Diz-se que o corno é o último a saber, mas Portugal começava a sentir um peso... na consciência. África começava a notar o assédio de outros, mais jovens e poderosos. O amor antigo, Índia, procurava agora denegrir Portugal e incentivava África à separação. Além disso, duas raparigas muito atrevidas, Rússia e Cuba (sobretudo esta, de língua muito afiada), parece que andavam a "fazer a cabeça" a África para por a malas de Portugal à porta. Portugal tinha visões de Nª Srª dizendo-lhe que Rússia estava no mau caminho e haveria de se arrepender. Impotente, Portugal rezava. As brigas do casal eram diárias e começavam a preocupar os vizinhos.

Com peso na consciência, Portugal saíu de casa numa noite de 24 de Abril, foi p'ós copos no Bairro Alto, Chiado, R. do Arsenal, Cais do Sodré... grande piela, vomitou monelhos de cavelo e... sentiu-se como novo! Ainda passou mais uns dias na borracheira e, quando voltou a casa, foi para pedir desculpas a África - ela podia ficar com tudo. Portugal trouxe alguns filhos para morar consigo, mas praticamente apenas com a roupa que tinham no corpo e uns poucos brinquedos na mão. Portugal não se importava, estava feliz e ia p'ós copos todas as noites. Rússia começou a seduzi-lo e até marcaram um encontro num motel, mas, no caminho, Portugal foi apanhado com excesso de álcool, passou a noite na esquadra, levou um raspanete do Juiz FMI e, à saida do Tribunal, já não se lembrava do seu destino.

A ressaca deixou marcas. Portugal foi colocado sob rigorosa dieta e andava muito deprimido. Apresentou-se às velhas Inglaterra e Flandres (às quais se juntou uma diligente viúva rica, Germânia de seu nome), com uma mão à frente (litoral) e outra atrás (interior). Além de pobre, estava doente e elas mandaram-no ao Dr. Delors, que lhe diagnosticou arteriosclerose e hipertensão. Receitou-lhe sildenafil em comprimidos azuis designados ECU. Os efeitos sobre a hipertensão foram nulos, mas produziu-se um efeito secundário de relevo - estava Portugal a fantasiar com uma relação entre a sensual Ota e o fogoso TGV, quando notou que as partes da frente estavam a crescer... embaraçado, Portugal tirou a mão de trás e juntou-a à que já tinha à frente... Oops, pensou Portugal, ai se o Castelhano dá conta!
Castelhano é um vizinho de Portugal - ainda são primos. Castelhano também tinha muita testosterona e, quando era jovem e apanhava Portugal distraído, tentou muitas incursões pelo interior. Portugal sempre se defendeu bem, mas agora, com o interior destapado, teme-se o pior!
Cartoon de Luis Afonso, Sábado Nº148, 1/3/07